No início do ano publicámos um artigo no qual tentámos analisar o estado do setor imobiliário em Portugal e supor qual seria a sua possível evolução no decorrer dos meses seguintes. Nada nos poderia preparar para o que viria a acontecer. Neste artigo falamos do tópico incontornável do momento. Ainda que o futuro esteja coberto por uma nuvem de imprevisibilidade, já há quem se arrisque a calcular o impacto que o surto de Covid-19 possa ter no setor imobiliário e quais as consequências a curto, médio e longo prazo.

Sentimos portanto que é nosso dever informar os nossos clientes, os passados, presentes e futuros, do que podemos vir a esperar e de como poderemos ter de reajustar expectativas. Para além disso temos também a obrigação de deixar uma mensagem de esperança, reiterando que nos iremos manter fiéis ao princípio de bem servir, procurando a mais adequada das soluções para qualquer que seja o desafio que se apresente.

Em que estado ficará o setor imobiliário após a Pandemia?

Com a evolução da Pandemia ao longo do último mês, poucos foram os países que não tiveram de implementar medidas de contenção extremas para evitar a propagação do Coronavirus. Muitos setores considerados não essenciais tiveram de reduzir atividade ou mesmo de suspender totalmente operações em curso.

O setor imobiliário, nas suas múltiplas vertentes, foi um dos primeiros a sentir os efeitos das restrições em vigor. Um pouco por todo o mundo assistiu-se a uma substancial diminuição da procura, mas também ao cancelamento de visitas e ao adiamento de celebração de contratos. Segundo dados do Business Times, estatísticas apontam para uma queda de 90% nas vendas de imóveis nas principais cidades da China – onde o surto teve início em dezembro do ano passado;, em comparação com o período homólogo em 2019, sendo que o preço das casas poderá ter baixado entre 8% a 10%.

Em Portugal, acredita-se que a situação atual levará à estabilização dos preços, apenas acelerando uma tendência que já se vinha a sentir nos últimos tempos. Apesar disso, alguns especialistas acreditam que os preços poderão sofrer uma diminuição substancial devido às mudanças políticas, sociais e económicas que vão decorrer do surto pandémico. Para já, é seguro dizer que este já obrigou tanto empresas como particulares a repensar as estratégias escolhidas para 2020, sendo o grande objetivo (e desafio também) finalizar negócios pendentes, estabilizar a ocupação de espaços arrendados e o consolidar o fluxo de receitas.

É bastante expectável que o mercado assista, a curto prazo, a um aumento da oferta a par de uma diminuição da procura, o que terá impactos diretos sobre o preço dos imóveis, quer para fins de compra ou arrendamento. Ao contrário de muitas actividades, e apesar da redução de pessoal e do aumento de medidas preventivas, o setor da construção não parou por completo. Apesar disso, muitos portugueses viram-se forçados a adiar investimentos e mudanças. Mais do que nunca é difícil fazer previsões a médio-longo prazo, mas entre os especialistas é unânime a opinião que irá aumentar consideravelmente o número de imóveis disponíveis no mercado o que poderá, como já dissemos, resultar na diminuição do preço do m2.

– o setor da construção não parou por completo…

Mas importa também analisar um cenário menos otimista, onde o fim dos vistos gold poderá afastar muitos clientes estrangeiros que se preparavam para investir em Portugal. Paralelamente a isso poderemos assistir a uma diminuição do poder de compra por parte dos portugueses, por força do aumento previsto do número de desempregados devido à estagnação de muito do comércio, indústria e serviços. Igualmente importante é olhar para o Turismo, setor intrinsecamente ligado ao imobiliário, onde o impacto está a ser ainda mais arrasador. Muitos proprietários de Alojamentos Locais ponderam transitar, ainda que temporariamente, para o arrendamento de longa duração numa tentativa de mitigar as consequências da diminuição drástica das taxas de ocupação dos imóveis, outros poderão mesmo optar por vender os imóveis dada a quebra na receita.

Há quem vaticine que os efeitos serão maiores do que os da crise de 2008, mas os mais optimistas afastam essa hipótese. Alguns profissionais colocam mesmo a hipótese da revitalização do setor, uma vez que o cenário de desvalorização dos imóveis pode atrair novos clientes seja por via dos orçamentos mais convidativos ou por reunirem condições de contrair crédito de habitação.

Apesar do futuro incerto que nos espera no final destes tempos extraordinários, sabemos que a capacidade de adaptação, não apenas do setor imobiliário, mas principalmente dos portugueses nos irá conduzir a novas maneiras de habitar, de trabalhar, de fazer negócio, de viver a casa e a cidade. Agora separados, fazemos questão de nos preparar para a próxima vez que possamos estar juntos.

A nossa missão não mudou, nem tampouco irá mudar. Apesar de distantes, continuamos aqui, prontos para o ajudar conforme pudermos, mas ansiosos pela oportunidade de voltar a apertar as mãos dos nossos amigos e clientes, quer seja para fechar negócio ou simplesmente para dizer “Olá!” de novo. Até lá, fiquemos em casa.